Parêntesis: O movimento da pop art, iniciado nos anos 50, (que teve como figura mor Andy Warhol) tinha em seu fundamento a ideologia de retratar a realidade, seja ela qual for, em tom de crítica ao vazio substancial que figura na sociedade.
Gilles Lipovetsky, em O tempos hipermodernos, afirma que a sociedade nos tempos atuais vive um estado de presente contínuo, pois, basicamente, não realiza projeções do futuro.
Gilles Lipovetsky, em O tempos hipermodernos, afirma que a sociedade nos tempos atuais vive um estado de presente contínuo, pois, basicamente, não realiza projeções do futuro.
Não sei muito bem se este era espírito que estava imbuindo Jarvis Cocker (ex -líder do Pulp), mas a cadência de Different Class (disco de 1995) gira em torno destes aspectos.
Agindo como um cronista / crítico da classe média inglesa, Cocker retrata, de forma sincera, fidedigna, a vida do cidadão inglês que na verdade é um reflexo da própria Inglaterra, e por que não do homem nos tempos atuais que se preocupa somente com o presente, ignorando basicamente o passado e se lixando com o futuro. Para demonstrar toda a sua indignação, o Pulp fez uso das mais variadas sonoridades que vão desde sintetizadores “carinhosos” a guitarras furiosas.
O disco começa com a enérgica “Mis-Shapes” que funciona como um hino já que conclama toda a nação a fazer algo, pois “There won't be fighting in the street”.
“Pencil Skirt” tem como tema um relacionamento de recheados de mentiras. Reflexo total da era em que dizer a verdade é algo incomensurável.
Já “Common People” relata a história de uma garota da classe média / alta que leva uma vida totalmente entediante e artificial, sonhando um dia levar uma vida comum.
Voyeurismo e a liberdade vigiada é retratada na quase épica “I Spy”. No fim da canção, Cocker justifica o seu ato de expiar: expiar a chance de um mundo melhor.
A sensacional “Disco 2000” (outro hino que ganhou versão fiel de Nick Cave) conta a história de como uma simples brincadeira pode ter conseqüências amorosas catastróficas. Derorah e o narrador da canção nasceram com uma hora de diferença entre si. Seus pais durante uma conversa informal traçaram o destino de ambos, que “poderiam ser irmãos”, mas iriam se casar. Durante toda a infância e adolescência o rapaz sustentou este pseudo romance que, logicamente, não viria a se concluir, deixando assim seqüelas “incuráveis” no narrador.
Mais a frente a Lou Reediana “F.E.E.L.I.N.G. C.A.L.L.E.D. L.O.V.E” (escrita assim mesmo) questiona o que seria o amor? Seria algo frio? Algo como um shopping center? Vai saber...
“Monday Morning” começa afirmando que “não existe nada para se fazer, então, por que viver no mundo se você pode viver em sua cabeça?”. Não saia de casa, pois todos os dias são iguais e solitários afirma mais a frente. Em suma, uma perfeita analise dos dias atuais que, cada vez, mais voam em velocidade astronômica e sem deter sentido.
Por fim, a última faixa “Bar Italia” conclama a “garota” a, mais uma vez, se mover pois chegou a hora. E questiona por que ela olha tão confusa? O que ela perdeu? Apenas a sua cabeça, explica.
Como se pode perceber, e recomendo ouvir, este é um dos melhores tratados da música pop do século passado e que de forma gratificante elevou o Pulp ao estatos de grande ícone.
O sucessor de Different Class só viria 3 anos mais tarde com This is Hardcore, que, ironicamente, começa com os 3 segundos finais de “Bar Italia”. Este fato se explica pela razão de que a temática desenvolvida no primeiro ganhou continuidade (algo como um filme) nesta outra grande obra. Mas isto é assunto para outra ocasião.
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