Páginas

20 de maio de 2013

É o que temos - Bárbara Eugênia



O título engana. Afinal a expressão "é o que temos" é popularmente utilizada para entregar algo que, talvez, não agrade a quem o queira, mas o que vemos aqui nesta obra mais recente de Bárbara Eugênia é o exercício inverso, pois 3 anos após o belo, mas amargo, "Journal de Bad", a cantora retorna de forma ensolarada em seu segundo álbum.

A mudança de gravadora (o selo Oi música) e fator tempo parecem ter feito bem a moça que brada e desbrava os terrenos amorosos sem pudor. Há espaço para declarações de amor escancaradas como em "Coração", "You wish, You Get it" e a singela "Não tenho medo da chuva". Até mesmo os tropeços gerados  pela vida ganha espaço em tom de auto-ajuda via "Peso dos Erros".

Apostando em outros caminhos Bárbara traz à tona o lado a rocker em "Ugabuga feelings"; canta em bom inglês (como na folk "I wonder"); se arrisca no francês "Jusqu' à la mort" e aproveita a onda revival brega resgatando o hino "Por que brigamos".

A produção precisa de Edgard Scandurra  e Clayton Martins somado as participações especiais de Tatá Aeroplano, Guizado, Régis Damasceno e Pélico só abrilhantam este É o que temos. Disco para se ouvir de coração e mentes abertos.



3 de maio de 2013

To the wonder

To The Wonder US Theatrical Release Poster, 2013.jpg

Ame. Odeie. Aceite: Terrence Mallick é um gênio de seu próprio cinema. Dono de uma filmografia invejável e única, o diretor é autor de alguns dos filmes mais amados e discutidos por cinéfilos mundo a fora. 
Seja pelo hermetismo e beleza estética de "Tree of life" ou pela barulho causado pelo épico de guerra chamado "Além da linha vermelha", Mallick sempre soube retirar o melhor de suas ideias e transpô-las para a tela grande. E "To the wonder", sua obra mais recente, não foge ao caso.

No centro da narrativa temos o casal Ben Affleck e Olga Kurylenko cujas interpretações magistrais entregam beleza a uma narrativa que esboça a ascensão e decadência do amor nos tempos atuais.
Lindamente fotografado, marca contínua do trabalho do diretor, visualizamos Neil e Marina nos minutos iniciais em Paris, a cidade do amor, onde o casal se conhece e se apaixona abertamente. Mas como a vida não é nenhum conto de fadas moderno Mallick traz a sua narrativa para o mundo real e a definhação, inevitável, domina ao retornarem para os EUA.

No intuito de mostrar a amplitude do tema Terrence carrega o filme com metáforas visuais apresentando a nós, os espectadores, a falência de sentimentos humanos seja nos longos planos silenciosos, quartos vazios, ou até mesmo na figura de um padre (interpretado por Javier Bardem) que põe em cheque a fé ante a si mesmo e ao mundo.

Por fim, caros espectadores comuns uma dica: fujam desta película! Pois o que vemos aqui é uma retratação fidedigna e carregada de reflexão ao mundo que nos cerca. Mallick, mais uma vez, não nos quer deixar ilesos e alheios a reflexões de temas fortes e, por que não, importantes. "To the wonder" não foge à regra.

Em tempos de blockbusters infindáveis cinemas afora este filme é um autêntico respirar.   

12 de abril de 2013

Kate Nash - Girl Talk


Inglaterra. Ano 2007: a cada nova década há sempre a malfadada busca por similares dentro da famigerada indústria musical. Datasse desta época uma nova cena alicerçada por jovem cantoras como Lilly Allen, Duffy e, porque não, Amy Winehouse, que traziam em comum bastante personalidade nas letras e enorme carisma. Fatores estes que fizeram com que o mundo voltasse olhos e ouvidos para a terra da rainha.

Porém, passados quase 6 anos, percebemos o quão efêmeras foram as carreiras destas meninas que não conseguiram suprir as necessidades do público e, principalmente, da crítica.

Analisando por alto temos a trágica morte de Amy, os fracos segundo discos de Duffy e Lilly Allen. Porém, correndo pelas beiradas está a cada vez melhor Kate Nash. E a prova disso é Girl talk, seu terceiro e ótimo álbum.

Vindo de uma crescente, em termos de qualidade, o novo disco da cantora traz consigo o seu já habitual afiado discurso feminista, mas apostando numa guinada sonora muito mais próxima ao indie e ao garage, caminho este já apontado desde o seu segundo disco, My best friend is you.

Recheado de boas canções, destacam-se "Part Heart" e o seu andamento a lá Breeders; a dançante e pegajosa "Friends" e as raivosas, leia-se punks, "Sister" e "All talk". Há espaço inclusive para rap cometido "Rap for rejection".

Enquanto a sua já agendada apresentação em terras brasileiras não chega (23 de junho em São Paulo), Girl talk segue em alta por aqui. Desde já um discos a se ouvir em 2013.      

14 de setembro de 2010

O lado escuro da-força em "Heligoland", disco novo do Massive Attack


Soturno. Etéreo. Belo. Dançante. Noturno. Angustiante. Sujo. Sexy. Depressivo. Estes são alguns dos vários adjetivos que permeiam críticas ao redor do globo quando o assunto é Massive Attack.
Ah mas você caro leitor não os conhece? Então eis aqui uma breve apresentação: trio formado em 1988 na cidade de Bristol (Inglaterra) pelos DJs Grantley “Grant” Marshall (Daddy G or “G”), Andrew “Andy” Vowles (Mushroom ou “Mush”) e o grafiteiro e cantor Robert Del Naja (3D or “D”). Eles foram responsáveis (junto ao Portishead) pelo o que se conhece como trip-hop que condensa em seu som uma almálgama entre o dub, a música eletrônica e hip-hop. De lá pra cá o hoje duo (Andrew Vowles abandonou o barco em 1998) consquistou prestígio da imprensa, respeito no meio musical e fãs por todo mundo. Após romper um hiato de 7 anos o retorno é celebrado via Heligoland.
Comparados aos discos anteriores(os dois primeiros inclusive: os celebrados Blue Lines e Proctetion) este disco difere por apostar em cores escuras. Não espere nada “fofo” como “Protection” (hit mor da década de 90 com clipe dirigido por Michel Gondry). A cadência aqui é outra. De um lado temos a arrastada e marcial “Saturday come slow” que tem Damon Albarn (do Blur) nos vocais. Em contraponto “Babel” tem como destaque a bela voz Martina Topley-Bird que nos conduz a dançar sem precedentes. O 1º single “Sliptting the Atom” tem Horace Andy (fiel colaborador do grupo) e seria a trilha perfeita para filmes de terror tamanho o caráter fantasmagórico. Já “Paradise circus” é perfeita para ninar crianças de colo tamanha a graciosidade, mas não sem um quê de soturno.
Introdução feita, os belo horizontinos terão oportunidade ímpar de conferir dia 15 de Novembro no Chevrolet Hall estas e outras perólas arrepiantes que embalam sonhos/pesadelos obscuros no vasto imaginário desta genial banda.

9 de setembro de 2010

Nosso lar?

Atenção: você seguidor da doutrina espítita e admirador da obra Nosso lar, de Chico Xavier, não perca seu tempo com esta resenha. Antes de mais nada é preciso frisar: não tenho nada contra a quem segue a religião em si ou a própria obra. Meu exercício aqui é analisar a adaptação fílmica da obra tida como um clássico do gênero.
Dirigido por Wagner de Assis o filme, à primeira vista, tem um visual deslumbrante (um primor em termos de cinema nacional). A retratação do universo é de encher os olhos. Construída em parceria com o diretor de fotografia Ueli Steiger (de 10.000 BC e O dia depois de amanhã) e efeitos visuais supervisionados por Lev Kolobov (responsável por Watchmen) a veracidade em que ônibus espaciais e estruturas arquitetônicas modernas são projetadas na tela é tamanha que fazem jus aos 20 milhões de investimento (o maior da história aliás). Para completar este desbunde visual só faltava uma bela história, mas isso não 0corre.
Desconhecedores a ideologia espírita podem sair do filme com várias questões em mente, pois o roteiro é ralo e carente de substanciabilidade. A história de André Luiz, personagem central, é meramente ilustrada via flashbacks que em nada acrescentam à trama. A disposição e os mecanismos que movem a cidade astral são mal trabalhados. E estes fatores somados prejudicam, inclusive, a atuação do elenco que mais parecem peças dispersas de um jogo inacabado. A impressão final (tal como aprendemos em A origem, filmaço de Christopher Nolan) é que estamos em um sonho no qual, tradicionalmente, pegamos a história pela metade e tentamos juntar as peças de um complexo quebra-cabeça.
O espectador natural (assim como eu, sem vínculos que somente buscava assistir a um bom filme) sai insatisfeito tamanha a carência de elementos que garantam uma boa história. Que no final das contas é tudo o que queremos quando o assunto é cinema.

5 de setembro de 2010

Os Manics querem você!

Canções movem você? Lhe causam "estranhas" sensações? Te fazem arrepiar quando tocam fundo seu coração? Se a resposta é sim para as três questões bem-vindo ao clube: você é um apaixonado pelo cancioneiro pop.
Provavelmente, 2010 será lembrado por várias razões graças a grandes álbuns lançados até aqui e os galeses do Manic Street Preachers, como não poderiam deixar de ser, deixam a sua marca via o belo Postcards from a young man.
Com proposta diferente do disco anterior (o sujo, cru e roqueiro Journal for Plague Lovers) os Manics (assim chamados, de forma carinhosa, pelos fãs) apostam nesta nova empreitada em canções mais ganchudas e grudentas. James Dean Bradfiled, o frontman do grupo, em entrevista concedida ao semanário NME disse que a proposta era criar um álbum que soasse como uma "coleção de grandes hits radiofônicos". Já o baixista Nicky Wire afirma que o alvo é "atingir o maior número de pessoas". E que ouvimos aqui atinge o seu objeto em sua plenitude. O 1º single "(It's not war) just the end of love" é o perfeito cartão de visita: riffs de guitarras pegajosos, refrão inesquecível somado a um quarteto de cordas criam corpo para a já habitual ressoante voz e o caráter poético nas letras abordando temas políticos, relações humanas e o amor que há tanto tempo comovem meus ouvidos caleijados. O restante do álbum segue essa mesma viciante linha e conta com convidados de peso como Ian McCulloch (do Echo and The Bunnymen) e o eterno ex-Velvet Undergroung John Cale.
Por fim, gostaria de falar mais do Manics, mas este é exercício deveras complexo, pois há anos (desde a minha aquisição de Everything must go, lançado em 1996) a cada lançamento me faltam palavras para descrever cada elogiado passo que este trio dá.
De certo, mais uma vez me rendo ao talento e faço parte deste "exército". Se você ainda não se "alistou" a legião galesa o convite está feito.

29 de agosto de 2010

Friday nights

Clichê número 1: o tempo é efêmero. É bem verdade que a velocidade impressa e um elevado número de coisas à fazer nos dias de hoje é tamanha que quando assustamos tudo se foi num estalar de dedos. Mas isto não quer dizer que tenhamos que nos limitar nossa vida a pequenas ações na tentiva vã de desacelerar nossos dias. Deve se sim viver e aproveitar ao máximo o que nos é proposto. Um pouco de diversão não faz mal à ninguém (clichê número 2). E é nessa ótica que temos Teenage Dream, segundo disco de Kate Perry.
Em entrevista à Billboard a cantora afirmou que "queria um disco que só tivesse hits" e ela quase consegue. Temos aqui várias canções com cara de pop de FMs felizes que jovens adoram: versos pegajosos, melodias dançantes e letras engraçadinhas (clichê número 3). "California Gurls" e a faixa título são demonstrações que vocês podem conferir por aí. Outros atrativos do álbum são "Circle of the Drain" (a sua visão/versão de "You Outgha know", canção emblemática de Alanis Morrissete sobre ex-namorados) e a deliciosa "Hummingbird Heartbeat". Se não fosse as habituais baladinhas (desnecessárias) o disco atingiria seu objetivo com louvor.
Por fim, Teenage Dream tem cara de sexta-feira à noite e Kate Perry convida a molecada pra dançar. Como todo mundo sabe, (lá vem mais um clichê) após a baladinha vem as ressacas de sábado. Mas enquanto ela não chega curta o efeito/gosto deste chiclete.
P.S. Essa enumeração de clichês tem explicação: é oriunda da obra "Clube dos corações solitários" cujo personagem central (Spit) adora fazê-la.