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2 de novembro de 2006

The idiot – Crônica de um babaca que sonha ser Beck

Uma das maiores virtudes do ser humano é o seu caráter mutante. De adotar máscaras. Transformar – se em outro. Desvirtuar o que está errado. Saber como virar o jogo na hora certa. Tudo isso em prol da superação dos problemas da vida que se leva.
Tempos atrás acredita eu ser deter este “dom”, pois a felicidade era o meu codinome. Se as coisas não iam bem fazia uso de certo jogo de cintura para que as agruras não me abalassem e seguia em frente sorridente e dançado conforme a música. Mas de uns tempos para cá parece que perdi meus “super poderes”. Parece que problemas do passado (que claro, sempre voltam) tornaram – se algo como vírus que é eliminado, mas ressurgem fortalecidos de tal forma que parecem imbatíveis. Aparentemente sem antídoto.
Nestas horas sonho em ser Beck Hansen, que pode não o cara mais feliz do mundo (afinal de contas ele pariu tempos atrás o disco tristonho, de dar dó, Sea Change), mas não há ninguém no meio musical tão mutante quanto ele. Seus discos são versáteis, poli temáticos, vigorosos, dançantes, belos... Um caminhão de adjetivos é cabível aqui.
Enquanto Bowie e Costello (considerados os camaleões da música) realizam discos focados num único estilo (se é R&B é R&B, se é eletrônico é eletrônico) Beck consegue a façanha de realizar o crossing-over (é assim mesmo que se escreve?) na mesma canção misturando country, rap, batidas electro e por aí vai. Não que ele não tenha realizado discos temáticos (o citado Sea Change, por exemplo, vai pela onda Nick Drakiana. Midinite Vultures é uma viagem pelo universo do funk e soul), mas ainda assim Beck cria álbuns sob a sua ótica. Ou seja: de forma diferenciada.
Prova mor disso é o seu último rebento: The Information. O que o multi instrumentista pretendia no disco anterior, o ótimo Guero, aqui fora alcançado em sua plenitude. Desde Odelay, clássico lançado há uma década atrás, Beck não soa tal genial. Para realização desse pequeno clássico, Beck utilizou uma gama enorme de instrumentos (de xilofones a pick – ups) em prol da criação de canções que refletem a sua personalidade: um tanto quanto atormentada, estranha, mas ainda sim com aquele frescor pop que todos adoram. O mundo agradece.
Não sei se estou certo por acreditar que Beck e sua versatilidade podem ser a soluções dos problemas que me afligem, mas gostaria muito de ser um cara assim, mutante, que sabe dar a volta por cima, de adotar personalidades para solucionar o que deve ser solucionado e depois abandona – lá para retornar a mim mesmo.
Ironicamente, o mais próximo que consigo chegar a Beck é me identificar com duas de suas canções emblemáticas: “Jack – Ass” e “Loser”. Mas hoje ele não é mais assim (acredito) enquanto eu continuo sendo aquele babaca, idiota que causa a irritação e magoa as pessoas que realmente se importam comigo e significam muito para mim.

Um comentário:

  1. Anônimo10:43 PM

    Você é o babaca mais querido e irreverente da face da terra. Luv you my dear friend!
    ass: Minnie Cooper

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