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20 de janeiro de 2007

Esquesitices invejáveis

Existem na minha vida várias coisas que, num misto de inveja e admiração, gostaria de ter herdado ou até mesmo ter participado de seu processo de criação.
Gostaria de ter criado pelo menos metade das canções de Jeff Tweedy. De ter a sensibilidade (e a ironia) de Nick Hornby e Cameron Crowe. Uns 10% da genialidade de Woody Allen também não fariam mal. A versatilidade do Beck... E por aí vai.
Bom e fora com essa gama de sentimentos que abandonei a sala de cinema maravilhado com Mais Estranho Que a Ficção de Marc Forster (diretor cujo filme Em Busca da Terra do Nunca, cinebiografia do autor de Peter Pan, me fez chorar bastante durante horas a fio). Mas aqui a história e os elementos trabalhados são outros.
O filme retrata a história de Harold Crick (interpretado brilhantemente por Will Ferrell que ganhou muitos pontos a favor após sua magistral interpretação em Melinda, Melinda), um auditor da Receita Federal, protagonista de uma vida muito metódica (presa a números e horários) e, conseqüentemente, repetitiva. Em suma, o típico personagem que a literatura nos ensinou a odiar. Mas a rotina maçante de Crick é quebrada quando ele começa ouvir uma voz feminina narrando os fatos de seu dia a dia. Essa é Karen Eiffel (Emma Thompson vivendo seu melhor papel em todos os tempos), romancista britânica que está há dez anos enfrentando um "bloqueio criativo".
Na tentativa de descobrir o que seria essa misteriosa voz Harold é surpreendido por uma indagação aterradora da narradora na qual ele iria morrer em breve. E, justamente, quando isso ocorre sua vida havia mudado drasticamente: Harold descobre que o amor que, ironicamente, manifesta - se por uma padeira anarquista (interpretada por Maggie Gyllenhaal). A partir daí se inicia a busca desenfreada pela vida. Com o auxílio de um professor de literatura (Dustin Hoffman) Crick descobre ser personagem de Eiffel que tem como característica mor de sua escrita a morte dramática de seus personagens.
Estranho, mas surpreendente como os clássicos roteiros de Charlie Kaufman, Zach Helm (roterista) cria um magistral e invejável exercício metalinguístico no qual quem sai ganhando é o espectador tornado assim Mais Estranho Que a Ficção um dos filmes obrigatórios dessa primeira temporada de 2007 e por toda a vida.
P.S. A trilha sonora também é sensacional e versátil. Vai de The Jam a Vangelis passando por Maximo Park.
Durante uma das melhores passagens do filme Will Ferrell pega o vilão e toca a única canção que aprendeu a tocar, "Whole Wide World", e conquista o coração de sua amada. Mas também com uma letra dessa quem não de renderia?

Um comentário:

  1. leia a minha impressão do filme.
    eu juro que num tinha lido a sua ainda.

    juro.

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