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23 de setembro de 2007

Growing up in public*

Semanas atrás obtive umas das experiências que, provavelmente, terei de enfrentar por muitos anos de minha vida: a sala de aula. Porém, numa posição muito diferente que enfrento diariamente na faculdade, pois lá sou aluno e durante estágio sou professor. E o quão difícil é esta tarefa... Como se não bastasse o frio na barriga ocasionado por encarar pessoas completamente diferentes e desconhecidas existe outro fator maior: basicamente, ninguém liga para você. Numa turma de, por exemplo, quarenta alunos se cinco prestarem atenção no trabalho que você gastou horas formulando é pedir demais. Infelizmente, esta é a realidade do ensino de uma forma geral no qual professores não são mais essenciais e os alunos não se dedicam nem ao mínimo de prestar atenção em respeito à presença do professor.
Este quadro deprimente pode ser transposto para várias outras áreas como, por exemplo, o rap norte – americano. Se para cada Jay – Z (exemplo de aluno aplicado que hoje é professor) existe milhares de alunos indisciplinados (Ja Rule, P. Diddy, T.I., Eminen...) que crescem como vírus provando esta máxima.
Recentemente, o mercado mundial presenciou uma batalha de extremos desta sala de aula: um aluno da turma do “fundão” (50 Cent) lançou o desafiou ao “C.D.F” (Kanye West). O embate consistia em: ambos lançaram no mesmo dia (11 de setembro) seus mais novos trabalhos, 50 via Curtis e West com Graduation. O primeiro (brigão por excelência que se gaba de ter levado nove tiros e sobrevivido) afirmou que seria impossível West vender mais cópias que ele na primeira semana e disse sem pestanejar: caso isto aconteça eu desisto de gravar discos solo. West, do seu lado, ouviu tudo e deixou rolar.
Analisando ambos se vê uma enorme diferença. Curtis é, sem sobra de dúvida, um disco fraco. Se comparado aos álbuns anteriores (Get Rich or Die Tryin’ e The Massacre) não apresenta diferenças. Claro, há momentos dignos de nota como “AYO Technology” (com Justin Timberlake e Timbaland) e “Follow My Lead” (com Robin Thricke), mas não garantem a média e a aprovação fica para o ano que vem.
Graduation a história é outra. É perceptível e admirável nas primeiras audições o crescimento do aluno dedicado que Kanye West é. Cada vez mais distante dos “batidões” do gangsta (marca de 50 Cent, por exemplo) West aposta em melodias surpreendentes que dialogam com, por exemplo, com o electro do duo francês Daft Punk (na ótima “Stronger”), utiliza samples da velha guarda da música negra (a belíssima “I Wonder” tem como base “My Song” de Labi Siffre, poeta e compositor) ou deixa o piano conduzir a canção (“Everything I Am”). Como se bastasse, estabelece dialogo não somente com colegas de classe (o sempre aplicado Mos Def marca presença) como também em outras áreas via Chris Martin do Coldplay que aparece em “Homecoming”. E sem deixar de render homenagens a quem merece “Big Brother” está lá dedicada explicitamente ao mestre (o citado Jay – Z).
E o resultado final nesta verdadeira batalha de gigantes teve como vencedor, e de forma merecida, Kanye West que vendeu 957 mil cópias contra 691 mil do adversário.
Por fim, cito sabiás palavras proferidas por West, pois como afirma na abertura de Graduation em “Good Morning”: “people graduate but still stupid”. Sim, ele já alcançou a graduação, mesmo se registrando tardiamente (Late Registration, grande disco anterior a este) e ruma para a pós, mas almeja algo ainda melhor. Não se cansa de crescer. E digo não somente em público, mas também como pessoa já que anseia algo melhor não somente para si: busca melhorias também para o mundo (para quem não sabe West é ativista político e participou do Live Earth evento organizado por Al Gore).
E que fiquei a lição para 50 Cent e seus asseclas: seus dias de baderna estão contados. E se você quiser sair mesmo dessa vida Kanye pode lhe ajudar. Dias atrás ele ajudou ao Common a produzir um discão (Finding Forever) coisa que ele não fazia há tempos...

* Em referência ao álbum de Lou Reed lançado em 1980.

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