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4 de novembro de 2007

Diary of a madman: Indie 2007

Fotos: Divulgação



Aconteceu entre os dias 05 e 11 de outubro a sétima edição da mais tradicional Mostra Mundial de Cinema de Belo Horizonte: o Indie.
Não tão diversificada quanto às de São Paulo e Rio de Janeiro, mas tão importante quanto, a versão 2007 fora de longe uma das melhores dos últimos anos graças a uma programação que agradou a “gregos e troianos” e a exímia organização.
Foram 129 filmes de 23 países exibidos nas salas do Usina Cine Clube e no Espaço Humebrto Mauro e subdivididos em várias categorias que iam desde pré-estréias (a Mostra Mundial), documentários musicais (Música do Underground), a sessão “nostalgia” dedicada a diretores clássicos (Indie Retrô), o atual cinema nacional (Indie Brasil) entre outras.
Segue abaixo a relação de alguns filmes, relatados tal como um diário de bordo, que este que vos escreve assistiu e recomenda como também algumas pequenas considerações sobre o dia a dia de quem, na medida do possível, acompanhou a correria/loucura de sessões disputadas e subseqüentes, assistiu filmes sentado ao chão ou em pé (fato que já aconteceu em edições anteriores). Então está ai:

Sexta – feira – 05/10/07:

No Primeiro a intenção era ver o documentário Rockin’ Brooklin, mas os ingressos estavam esgotados. A opção era então a assistir ao filme brasileiro A Casa de Alice, primeira obra do documentarista Chico Ferreira. A película aborda o dilema e o dia a dia da manicure Alice que reside em São Paulo com três filhos, a mãe e o esposo. O roteiro nos transporta para esse ambiente que se aproxima tanto do real que agrada se pensado justamente como documentário, mas nem tanto como obra ficcional. Ficou devendo.

Sábado – 06/10/07

O dia mais movimentado do festival. Um calor infernal pairava sobre Belo Horizonte. Dia também de sessões disputadíssimas e simultâneas. A tarde começou com o ótimo e hilário filme do gênio multifacetário Serge Gainsbourg Paixão Selavagem que tem no elenco a ainda jovem e belíssima Jane Birkin e uma participação mais do que especial de Gerard Depardieu. Na seqüência fora a vez da surpreendente animação sci-fi noir Renaissance dirigida por Christian Volckman. O roteiro futurista gira em torno do ano de 2054 e é ambientado em Paris onde a vida é monitorada por câmeras de vigilância. A personagem Illona, importante cientista da companhia Avalon, fora seqüestrada. E cabe ao agente Barthelemy Karas resolver a questão. Num misto de Sin City (pelo tom de preto e branco graphic novel semelhante a obra de Frank Miller) e com temática semelhante ao mal resolvido Minority Report, o filme fora um dos melhores deste ano e deve entrar em cartaz em breve em cinemas belo horizontinos.
Chegava a noite e coração ficava partido: iria ver um filme do Truffaut (no caso o elogiado Amor em Fuga), enfrentar a interminável fila para INLAND EMPIRE (novo de David Lynch) ou encarar a obra de estréia de Tom Kalin, Savage Grace? Se existe uma máxima “na dúvida fique com a última opção” aqui ela se comprova e não fora em vão. Savage Grace é um grandioso e ousado filme que retrata a história real de Barbara Baekeland, interpretada brilhante por Juliane Moore sendo esta a sua melhor atuação de todos os tempos. A história gera em torno de seu casamento conturbado com o milionário Brooks Baekeland, uma polêmica relação incestuosa com o seu próprio filho, Antony, que é homossexual, e a decadência de sua família. Dotado de uma bela fotografia, uma direção primorosa e de cenas/diálogos fortes a obra é recomendável com louvor. Para quem perdeu, ele tem estréia marcada nos cinemas brasileiros no dia 15 de novembro.


Domingo – 07/10/07

Dia de filmes B. Leia-se: de baixo orçamento. O primeiro fora Quarto 314, de Michael Knowles. O roteiro da obra é simples e interessante: retrata a história de cinco casais vivendo momentos distintos do relacionamento e tendo como ambiente o quarto mencionado no título. Dotados de bons diálogos e de um elenco de atores amadores, mas condizentes com a obra, o filme carece de apenas um aspecto: a ausência de trilha sonora. Porém, isto não pesa tanto no resultado final. Grata surpresa.
Na seqüência foi a vez do documentário The Ballad of A.J. Weberman de James Bluemel e Olive Ralfe. O filme retrata a vida do lunático A.J. Weberman, um dos pioneiros da Dylanlogia, ou seja, estudo sobre as letras de Bob Dylan e da Garbologia que é o estudo sobre a vida do ser humano através do lixo que ele produz. A porção cômica da obra reside em dois aspectos: primeiro pelas hilárias conversas telefônicas de Weberman e Dylan no qual o primeiro persuadia o segundo em perguntas escatológicas, que beiravam o besteirol, e deixavam-no irritado. Segundo pelo modo de vida obsessivo do protagonista que se une aos “rebeldes” de Nova York para viver de forma irreverente já que ele e seus asseclas/admiradores vivem à margem do sonho americano. Hilário.

Quarta – feira – 10/10/07
Hora e vez do já citado Rockin' Brooklin, dirigido por Wojciech Bozyk, que observa a frutífera cena rock do local. Mais do que retrato romântico, o filme retrata as dificuldades de quem objetiva viver de música e traça paralelos com bandas que conseguiram alcançar o sonho de sair de seus domínios e alcançar vôos maiores como é o caso do soberbo TV On The Radio e o Radio 4. Boas e promissoras bandas são apresentadas ao vivo e provam que apesar de atual cena nova-iorquina estar em decadência (vide Strokes, Interpol etc.) no bairro vizinho as coisas vão bem obrigado.


Quinta – feira – 11/10/07

A despedida do festival. A escolha da vez fora o aguardado, pelo menos por mim, Delirious. A comédia de Tom DiCillo (diretor de Johnny Suede) apresenta o dia a dia do paparazzi Les Galantine que busca de forma insana a sua ascensão profissional. Les encontra o morador de rua que sonha em ser ator, Toby, e o adota como assistente. Ambos partem assim em busca desenfreada pelo sucesso. O desenrolar desta história é deveras delicioso, mas é importante ressaltar o fio condutor da obra que reside na interpretação magistral dos protagonistas (interpretados pelo brilhante Steve Buscemi, como Les, e Michael Pitt, como Toby) que rendem boas gargalhadas. Tal como participação de Elvis Costello que interpreta a si mesmo. De forma geral, DiCillo atinge seus objetivos que residiam não somente apresentar a superficialidade da vida das celebridades como também quão irônica ela pode ser. Perfeito.


E assim, termina mais edição do festival para sempre residirá no coração dos mineiros que, assim como eu, são apaixonados pela sétima arte e aguardam ansiosamente a próxima edição.

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