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11 de novembro de 2007

REQUIEM POUR UNE ARTIST

Pela primeira vez em quase três anos deste espaço publico algo que não seja de minha autoria. E, para começar bem, tenho a honra de postar as considerações de Juan Fiorini (poeta, escritor, agitador cultural e, nas horas vagas, meu grande amigo) sobre o obra prima de Silvie Simmons, Um punhado de Gitanes, que esmiuça a vida e a obra do gênio Serge Gainsbourg.



“Il y a une trilogie dans ma vie. Un triangle, dirons-nous, équilateral que est la fummé enfin, les Gitanes – l’èthylisme, et la fille. Je n’ai pás dit isocèle, j’ai dit équilateral. Mais tout ça avec um background me mec initié à la beauté, à la peinture.”*

Em Um punhado de Gitanes – Serge Gainsbourg, Sylvie Simmons, jornalista de rock renomada procura definir e falar um pouco sobre Serge Gainsbourg, o mito e ícone pop francês, um artista tão versátil quanto polêmico.
Compositor, escritor, diretor / roteirista de cinema, cantor, fotógrafo, intelectual, artista plástico, ator, bêbado, provocador, amante e fumante exacerbado de cigarros Gitanes (cinco maços por dia!!!), este misto de Bukowski com Barry White apresentou a elegante e ímpar chanson française ao mundo pop, namorou beldades (Brigitte Bardot e Jane Birkin, só para citar as mais conhecidas), criou o pop francês – até então a música francesa era motivo de chacota pelo resto da Europa, principalmente entre os ingleses, numa época em que os Beatles e os Rolling Stones eram referências mundiais – e foi o autor / cantor do talvez maior hino musical kitsch e sexy do planeta: “Je T’aime, moi non plus”, uma verdadeira “Stairway to Heaven” das camas redondas.
Dona de uma maneira deliciosamente descolada de escrever, que permite uma leitura objetiva e com poder de entretenimento excelente, Sylvie aborda desde o nascimento de Serge (cujo nome verdadeiro era Lucien Ginsburg, filho de judeus russos), sua juventude, suas primeiras aparições no mundo artístico – iniciando nas artes plásticas e logo após nos pianos dos clubes parisienses –, sua crescente fama, suas manias, suas crises, até a degeneração, encarada com uma classe que só um francês sabe como, bien sûr. O livro também aproveita para expor fatos como suas parcerias musicais com verdadeiras divas chansonniers como Juliette Greco e Françoise Hardy, seus sucessos e insucessos, fatos pitorescos advindos da excentricidade do artista, renomado ainda que tardiamente (o sucesso só viria a brilhar para ele em 1969, embora seu primeiro álbum tenha sido lançado em 1958).
E tudo não pára por aí: no final do livro há também um apêndice com várias citações do enfant térrible, uma discografia pra lá de completa, uma relação de todos os trabalhos feitos para a televisão e cinema e sugestões de referências (ótimas) para gainsbourgólogo nenhum se queixar.
Serge morreu em 1991. Mas para muitos não morreu. Uma inscrição na parede da casa número 5 da Rue de Verneuil, no bairro de Saint Germain, em Paris, diz que “Serge não morreu. Ele está no céu, trepando”. A única e melhor conclusão é a de que este livro é um passeio delicioso pela vida de um dos raros homens que soube talhar a grife da polêmica de maneira fatalista-niilista, um homem que sabia que “la mort est toujour présent, si on n’est pas con”(“A morte está sempre presente, se não formos bobos”), mas que estava igualmente convencido de que por algum motivo isso não aconteceria com ele. Un suicide optimiste, enfin.

*“Há uma trilogia na minha vida, um triângulo eqüilateral, por assim dizer, de Gitanes, alcoolismo e mulheres. Repare que eu não disse isósceles, disse eqüilátero. Mas tudo isso é fruto da formação de um homem que foi iniciado na beleza através de arte.”

Por Juan Fiorini

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