
"Paranoid Park é o primeiro filme de Gus Van Sant 100% bom": lembro de ter lido isso em algum lugar antes mesmo de ver a nova obra do diretor. Mas será que esta isolada frase teria realmente sentido? E o que faria dele ser algo superior a Elefante ou a Gênio Indomável? Essas foram as questões que se passaram pela minha mente horas antes de assisti-lo. Tendo - o feito vejo que várias são razões para tal afirmação.
Em primeiro lugar, sim, esta é mais uma incursão pelo universo adolescente já trabalhada em películas anteriores. Porém, aqui ela está diluída de maneira diferenciada e abrangente.
Baseado no livro de mesmo título escrito por Blake Nelson, vários dos conflitos oriundos deste período marcante para grande parte dos seres humanos são colocados e discutidos de forma primorosa: a tentativa de se estabelecer em algum grupo, o primeiro amor, a primeira vez, desilusões, separações, o vazio de uma era carente de ideais a seguir (ou com zilhões deles dependendo da ótica)... tudo muito bem "amarrado", sem os buracos no roteiro que possivelmente poderiam aparecer.
O crescimento do diretor, tecnicamente falando, é visível. Utilizando e ampliando recursos utilizados em filmes anteriores, tidos como "experimentais", surgem aqui de maneira natural. As cenas em filme Super 8 (típicas de documentários sobre skatistas tal como o protagonista) são de rara beleza chegando inclusive ao ato inimaginável de imprimir um certo ar poético as imagens. O já tradicional usufruto do flashback (utilizado à exaustão em Elefante) surge de maneira sutil em momentos pertinentes na narrativa.
A trilha chega assustar tamanha a qualidade e diversidade. Oscilando entre o pop e o clássico, a seleção vai dos doces trinados de Elliot Smith (o grande mote de Gênio Indomável), passa pelo gênio Nino Rota, fiel escudeiro do não menos genial Federico Fellini, e utiliza da Nona Sinfonia de Beethoven. Tudo impresso de forma surpreendente nas telas.
O elenco, mais uma vez formado por atores amadores, brilha em atuações dignas e extremamente fidedignas a essência dos personagens.
Mas melhor que ficar escrevendo sobre os fatos, tal como o personagem central (Gabe Nevins) é tentar entender que tal como o "crime" cometido , o sentimento de culpa e as imagens que irão segui-lo por toda vida Gus Van Sant, de maneira histórica, criou um filme que não irá figurar listas de melhores de todos os tempos, nem lhe renderá premições inúmeras (opa! Cannes o fez). Porém, o mesmo não deve ser esquecido. Grande obra.
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