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14 de dezembro de 2006

Heaven knows I’m Miserable Now*

“What about the voice of Geddy Lee. How did it get so high? I wonder if he speaks like an ordinary guy”
Sthephen Malkmus, vocalista do Pavement, em “Stereo”

Não! Não serei a, mais uma vez, tirar sarro com Geddy Lee (vocalista do Rush), pois, como percebe – se na epígrafe, Malkmus já o fez maravilhosamente bem. A utilização da mesma se justifica ao fato de que, assim como Lee, Ryan Adams já foi, em sua melhor fase, um “ordinary guy”.
Em Heartbreaker, seu melhor disco solo (e não me venha dizer que prefere outro!) Ryan expõe, em tom confessional, um período conturbado de sua vida. Para se ter uma noção sua ex – banda, a elogiada Whiskeytown (uma das prediletas deste que vos escreve), entrava num período de férias que culminaram no fim da mesma. Seu relacionamento com Winona Ryder chegou ao fim de forma catastrófica. O uso de drogas atingiu escalas grandiosas... E foi de “cabeça cheia” que Ryan mais o produtor Ethan Johns (fiel escudeiro que viria posteriormente a trabalhar em outros discos de Adams) gravaram em poucos meses esta obra – prima.
Como já afirme Adams aqui canta, de forma tristonha, as mazelas de quem está à beira do abismo. Apresenta todas as suas chagas temendo a não recuperação. Tudo de forma bela e serena.
Em “Oh My Sweet Carolina” castiga o ouvinte ao convidar a musa country (e de Gram Parsons) Emmylou Harris para realização de um dos duetos mais comoventes dos últimos tempos.
Na belíssima “Come Pick Me Up” (utilizada brilhantemente por Cameron Crowe em Elizabethtown) é visível também certa carga de ódio no qual o cantor diz: “Me fode, roube meus discos, estrague todos os meus amigos”.
Ecos de Dylan (das antigas como nas garageiras “To Be Young” e “Shakedown On 9th Street”), Bruce Springsteen (fase Nebraska na gélida “To Be The One”) e Nick Drake (fase Pìnk Moon em “Don’t Ask For The Water”) são perceptíveis aqui e acolá.
Uma pena que esta fase “Poor Boy”** tenha durado apenas um disco. Mais tarde, no disco seguinte (o multiplatinado Gold) Adams dá a volta por cima e, a partir daí, nunca mais seria o mesmo só voltado a explorar o formato (sem repetir o brilho) no duplo Love is Hell.
Mais eu e Nick Hornby (que escreveu um ensaio muito bacana sobre Heartbreaker) ainda preferimos a fase “ordinária” do moço.
O disco em si é um convite ao universo de quem ama de forma zelosa e incondicional e sofre as agruras por isso. É o convite para o universo românico e sôfrego de Ryan Adams. É um convite irrecusável.

* O título da canção dos Smiths é perfeitamente justificável pelo fato de que a primeira de Heartbreaker é na verdade uma discussão entre Ryan Adams e os integrantes de sua banda sobre uma faixa de Morrissey. E pela temática do álbum também.
** “Poor Boy” é uma canção de Nick Drake presente em Bryter Later, seu melhor álbum que se você não tem vale aqui aquela máxima da Bizz: "compre, roube, copie, peça empretado (e não devolva), mas não deixe de ter esta obra em casa".

Um comentário:

  1. Anônimo11:19 AM

    como é que vc ousa a não mencionar AMY?

    mais beatle-êsca / nickdrake-êsca impossible.

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