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1 de setembro de 2007

Heroes of the day: “Extreme Ways”* of Jason Bourne & Paul Greengrass


Dias atrás estávamos eu e meu grande amigo cinéfilo Luiz discutindo, filme a filme, a recente lista publicada pela Bravo! no qual estão dispostos os 100 filmes essenciais segundo a publicação. Aliás, exercício este muito interessante e delicioso. Mas não quero aqui colocá-la em pauta e sim realizar um pequeno questionamento: o porquê a ausência das obras de novos diretores?
Tocar em terreno sagrado é muito válido, principalmente para a nova geração de admiradores do cinema, mas também um pouco “fácil” já que não há muito a se discutir quando se fala de Orson Welles, Stanley Kubrick, Coppola, Fellini, Woody Allen etc. São diretores geniais que abriram portas e mentes, influenciando muita gente. Isto é fato e ponto. Se pensarmos na lista citada ao que parece o cinema parou nos anos 70. Porém, de lá para cá muita coisa aconteceu. Será que trabalho da nova geração de diretores como Michel Gondry, Spike Jonze, Fernando Meirelles (único novato na citada lista), François Ozon, Christopher Nolan, Richard Linklater entre tantos outros não são válidos? Dignos de nota? E de fato “uma verdade irritante” (tal como no filme Os Simpsons, em ironia ao documentário Uma verdade Inconveniente).
E dentre os novos diretores decreto hoje o mais novo membro da “academia”: o britânico Paul Greengrass. Sua carreira ainda engatinha eu sei, mas a “passos largos”. E muito me impressiona a maneira que conduz seus filmes: a câmera segue de maneira tensa seguindo cada nuance nos momentos exatos. Seus planos se alternam entre abertos e fechados sem perder a essência. Captura de forma primorosa cada um dos detalhes presentes na fotografia. Retira dos atores de seus atores interpretações no mínimo elogiáveis. E não se trata de um diretor especializado em dramas ou qualquer outro gênero ligado ao mesmo. Sua especialidade são as películas de ação.
Quando Vôo United 93, seu “segundo” filme (seguindo o ponto de vista mercadológico) estreou muita atenção fora dada ao fato de abordar um fato no mínimo perigoso, a ferida dos americanos: 11 de setembro que aqui no caso faz menção ao vôo que não alcançou seus reais objetivos ocasionando, após a queda, a morte de todos os tripulantes e terroristas a bordo. Mas, polêmicas a parte, o filme é realmente impressionante. E digo isso não somente pela carga de realismo apresentada em cenas angustiantes. Assisti-lo é algo que realmente incomoda. Lembro-me até hoje das dores de cabeça geradas ante sua exibição no cinema tamanha a confusão e caos apresentados nas cenas. Tal como nos diálogos da sala de comando do aeroporto que são recheadas de terminologias estranhas aos meus ouvidos e isto me fascinou grandiosamente tal e qual aconteceu ao assistir Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, filme que, aliás, me deu muita dor de cabeça também. Entretanto, ambos os casos são dores de cabeça do bem.
E sua trilogia sobre o personagem de Robert Ludlum, o agente Jason Bourne, também não fica para trás. E falando nela me renderei agora a seu último capítulo: o soberbo Ultimato Bourne.
Na história Jason segue sua busca incessante de sua identidade. Para tanto abandona seu esconderijo e ruma ao redor do globo para findar a missão de um homem só. Agora, o agente encontra no jornalista Simon Ross do The Guardian (publicação inglesa), que acompanha toda a história inescrupulosa da organização secreta Treadstone (renomeada Blackbriar) da qual o próprio Jason fazia parte, a fonte necessária do resgate de sua origem. Porém, o encontro com o mesmo não fora dos mais felizes gerando a morte do repórter e mais uma nova caçada ao agente.
Eletrizante tal como os dois anteriores, em Ultimato Greengrass usufrui bem os milhões de dólares (R$ 125 mi.) utilizados para a realização do filme. E em grande estilo. As locações na Europa e África foram realmente muito bem utilizadas, tamanha a beleza da fotografia e as ótimas tomadas aéreas introduzidas a cada cidade que Bourne passava.
No campo das atuações Matt Damon segue magistral no papel do agente. Julia Stiles cede, mais uma vez, seu brilhantismo a personagem Nick Parsons. Joan Allen volta interpretando bem a personagem Pam Landy. O sempre marcante David Strathairn é Noah Vosen, agente do governo implacável quando o assunto é a morte de Jason Bourne. Da série “coadjuvantes de luxo”, estão lá Daniel Brühl (de Edukators e Adeus Lênin) em cena curta, mas importante na trama, e Albert Finney que em míseros 20 minutos de cena na reta final do filme expõe toda sua grandiosidade como ator (fato que quem já viu Peixe Grande sabe do que estou falando).
Em suma, para finalizar, faço das palavras proferidas por Gregory Kirschiling, crítico do Entertainment Weekly.com, as minhas: “para Greengrass, esses filmes se destacam porque Bourne é um homem real, num mundo real. E ele sustenta uma busca tão mítica e arcaica quanto uma tragédia grega, sua própria identidade”.
Esses e outros fatores fazem de Jason Bourne o agente da vez (já que a série James Bond aparenta entrar nos trilhos, mas aguardaremos ansiosamente por Agente 22 para definir) e de Paul Greengrass um dos melhores diretores da nova safra.

* A ótima “Extreme Ways” do Moby é o tema musical da trilogia de Jason Bourne.

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