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30 de junho de 2009

Professores

São cinco e meia da manhã de uma segunda–feira. A água está fervendo no fogão para preparar o café e para ajudar a enfrentar a semana. Mais uma como qualquer outra na qual podemos ser heróis ou bandidos, mas sem direito de escolha. E uma dezena de dúvidas perpassa nossas cabeças: como será nosso dia? Voltaremos vivos aos nossos lares após a nossa exaustiva carga horária de trabalho? Seremos maltratados ou agredidos? Teremos em algum momento reconhecimento da nossa antes

admirada agora malfadada profissão? Dúvidas estas e outras tantas que permanecem sem resposta definitiva.

Após o café é hora de partir para a batalha. Porém, por mais que a realidade apresentada seja semelhante à de um policial estes questionamentos se dirigem a um raro grupo de pessoas que acreditam que o mundo ainda tem solução e ela reside no ato de educar. São eles: os professores.

Diariamente, acompanhamos em jornais, revistas e no bate-papo do intervalo, situações vergonhosas que envolvem a já desgastada relação professor/aluno. É o professor que teve seu braço quebrado porque reprovou um aluno. É a professora ameaçada de morte devido a uma nota baixa dada, etc. Antes respeitada, a figura do professor hoje está num estado de putrefação educacional aparentemente insolúvel.

Este estado de incerteza absoluta continua imaculado de tal forma que até mesmo o cinema que antes acreditava/apresentava a figura do professor revolucionário, capaz de mudar a realidade vigente (tal como vemos nos belos A Sociedade dos poetas mortos, Mentes perigosas entre tantos outros) caiu por terra. Um exemplo recente desta guinada é Entre os muros da escola do francês Laurent Cantet, filme baseado no livro homônimo de François Bégaudeau (que também é o roteirista, atua como protagonista do longa e nas horas vagas é professor de francês) percebemos que esse mal das adversidades apresentadas não difere em nada da atual educação francesa. O desrespeito dos alunos, o desinteresse por parte dos mesmos, a luta do professor que, despreparado, não consegue alcançar seus objetivos, a tentativa vã de promover a interdisciplinaridade, o descaso de alguns pais quanto ao comportamento de seu filho(a) perante regimento escolar, inúmeras tentativas de reestruturação deste... são tantos aspectos em comum que a concepção sobre os problemas educacionais brasileiros torna-se lugar-comum; tristemente, não mais pertence a nossa cultura, e sim, ao mundo.

Por fim, talvez este texto amargo devesse terminar de forma sombria, sem esperanças, mas ainda temos que acreditar que todos esses males possam ser sanados, pois, como disse certa vez finado cineasta François Truffaut sobre Luz de Inverno, filme de Ingmar Bergman:

"No final de Luz de Inverno vemos um padre que quase perdeu a fé celebrando uma missa em sua igreja completamente vazia. ... ‘Sim, Bergman quer nos dizer que os espectadores no mundo inteiro estão se desligando do cinema, mas acha que devemos continuar mesmo assim a fazer filmes ... ainda que não haja ninguém no cinema."

François Truffaut, em O Prazer dos Olhos. Escritos sobre Cinema

Faz-se necessário, mais do que nunca, acreditar que a educação é a chave de um mundo melhor e que ela irá proporcionar grandes mudanças em todas as estruturas da sociedade. Ainda que grande parte dos nossos espectadores (os alunos) não estejam atualmente interessados nisso.

Por Bruno Lisboa

Texto publicado originalmente no jornal Soletrar da PUC - Minas

Um comentário:

  1. Isabella7:43 PM

    Na lista das pessoas que foram grandes infuências em nossa vida, com certeza alguns Professores vão aparecer na lista, desde o professor do jardim de infência até o orientador na faculdade... Tenho muitos! Profissão nobre.

    Falando nisso, Parabéns pelo Dia do Professor (atrasado)!

    Isa

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